Entre as tendências que se observa no mundo corporativo estão a valorização da experiência do colaborador, que passa por uma maior flexibilidade no trabalho. O período de quarentena apenas antecipou e reforçou esta necessidade, conforme já ressaltamos em textos anteriores. As pessoas, cada vez mais, têm se preocupado com a saúde, qualidade de vida e satisfação, buscando adequar o recurso mais escasso, o tempo, no alcance destes fins. A flexibilidade, ressalte-se, pode ser entendida em sentido amplo, englobando horário, ambientes ou mesmo a forma de se trabalhar.
Há, neste sentido, maior aderência ao home office, espaços de co-working, horários flexíveis, entre outros fatores, que buscam, exatamente, alcançar este propósito. Posta a questão, ficam alguns questionamentos: estas características servem para todos? Devem ser adotadas de maneira integral? Há diminuição ou aumento da produtividade? Podemos avaliar todas estas questões sob o viés da organização e do profissional.
Por óbvio, embora seja uma tendência, não há como generalizar a questão, considerando-a aplicável a toda e qualquer organização. A questão deve ser avaliada caso a caso, e para que se tenha uma definição, é preciso compreender o funcionamento da companhia, passando por alguns pontos mais importantes:
- Forma de exercício da atividade
- Vontade dos colaboradores
- Forma de gestão
O horário de trabalho, em relação à forma de exercício de atividade, pode gerar dificuldades na flexibilização caso a organização tenha uma rotina mais intensa de atendimento a clientes. Para estes casos, fica mais difícil o funcionamento fora do horário comercial e sem a presença física. Entretanto, para as demais situações, nada impede que haja um ajuste individual feito pelos colaboradores, desde que seja de sua vontade e que as lideranças estabeleçam formas eficazes de gestão, avaliação de resultados e fornecimento de feedbacks, que devem ser mais frequentes e completos.
Muitas das vezes, não é necessário que o colaborador entre e saia da organização todos os dias no mesmo horário, mas que precise entregar determinados resultados, o que implica também uma flexibilização na forma de trabalhar. É importante que os gestores avaliem caso a caso a preferência dos colaboradores tendo em vista o perfil comportamental de cada um.
Há aqueles que precisam de uma rotina mais rígida, de um lado e, de outro, há quem prefira ter uma rotina mais adaptável. Em todos os casos, é preciso desenvolver formas de avaliação de resultados por fatores objetivos, tais como os indicadores, além de mecanismos de avaliação de horas trabalhadas, caso o regime de trabalho exija tal controle. A tecnologia é importante aliada neste sentido. Desta forma, é possível adotar um regime parcial de flexibilidade, contemplando os interesses e melhor performance da equipe.
Em relação ao ambiente, a flexibilização pode ser entendida como a criação de locais mais integrados, que permitam maior comunicação, convivência e menor formalidade. Por óbvio, algumas atividades, entre as quais se inclui a advocacia, demandam certo formalismo e isto não pode ser deixado de lado. Entretanto, algumas medidas podem suavizar o ambiente e permitir maior rendimento e engajamento, como por exemplo o uso de gravatas apenas em ocasiões especificas, ou ao menos a possibilidade de escolha individual por cada um.
Estas medidas de flexibilização podem aumentar a produtividade dos colaboradores. Em pesquisa realizada pela CNI no ano de 2017[1], constatou-se que 73% dos trabalhadores brasileiros gostariam de ter um ambiente de trabalho mais flexível. Passados três anos, ouso dizer que este número seria ainda maior.
É sempre importante que haja um alinhamento entre os gestores e os colaboradores, de modo a entender as necessidades de cada um e o que se espera da organização em termos de entrega para avaliar, no caso concreto, se é válida e, em caso afirmativo, qual a melhor forma de promover a flexibilização em todos os âmbitos citados no texto.
[1] Brasileiro quer mais liberdade para negociar flexibilidade no trabalho. Disponível em https://noticias.portaldaindustria.com.br/noticias/trabalho/brasileiro-quer-mais-liberdade-para-negociar-flexibilidade-no-trabalho/. Acesso em 02 de setembro de 2020.